O livro do historiador Marcelo Cândido se insere na tradição historiográfica francesa sobre a reflexão acerca dos limites da sensibilidade política ocidental por meio do esclarecimento das noções de realeza e poder público.
Como sugere o título do volume, Marcelo Cândido contrapõe à uma realeza germânica sagrada e mágica, exercida no quadro de uma suposta privatização do poder real, uma realeza \\\"cristã\\\", definida como \\\"pública\\\". A opção pelos termos \\\"cristão\\\" e \\\"público\\\" para a definição da experiência política da Alta Idade Média não deriva de um esforço metodológico próximo ao ficcional, tão caro à historiografia que imperou aqui e no exterior entre os anos 1960 e 1990, mas da \\\"redescoberta\\\" do vocabulário empregado pela própria documentação de época.
Esta vitória do método, exibe o potencial do historiador de dialogar de forma crítica e lúcida com pressupostos firmes que formam o senso comum contemporâneo relativo às origens e fundamentos do Estado e da tradição política moderna, supostamente nascidos em contraste com a experiência medieval. É desta maneira, com rigor e seriedade, que Marcelo Cândido vai dialogar com a tradição clássica sobre os estudos medievais, estabelecendo uma visão clara e dinâmica do período.